Resenha
do filme Elefante Branco
O filme Elefante Branco de
Pablo Trapero, demonstra através de seus personagens centrais, padre Julián
(Ricardo Darín), padre Nicolás (Jérémie Renier) e a assistente social Luciana
(Martina Gusman) o estado de miséria e abandono que a favela de Villa Virgen
localizada próxima a construção abandonada (daí o nome Elefante Branco) do que
seria o maior hospital da América Latina, na cidade argentina de Buenos Aires.
Padre Julián tenta
desenvolver um trabalho social que ao mesmo tempo afaste os jovens da droga e
do tráfico e também permita a construção de novas casas populares para os
habitantes da região. Enfrentando dificuldades como a falta de verbas, greve
dos trabalhadores envolvidos na construção por não serem pagos, seus conflitos
com a Arquidiocese que nitidamente se preocupa mais com política do que com a
população, além do descaso do Estado diante da emergência social e econômica dessa
população de trabalhadores. Padre Julián deixa claro toda a sua humanidade ao
se mostrar cansado e com medo de acabar
odiando a todos como relata em uma cena.
O filme retrata a difícil
realidade vivida por moradores de uma favela, mostra as expressões da questão
social tão comuns a uma comunidade de pessoas muito pobres, a falta da vontade
política, o convívio com a violência, com a falta de moradia digna, a aproximação
com a igreja, e a luta pela efetivação de seus direitos básicos. Como as
condições são de completo abandono os moradores procuram ajuda onde podem
encontrar, no caso na igreja representada por padres que prestam serviços em
forma de caridade. É como ainda vemos muito presente na sociedade
contemporânea, onde o Estado não chega resta à população a benesse.
Merece destaque o diminuto dilema ético entre
o celibato a e paixão vivida entre padre Nicolas e Luciana, onde o mesmo não se
indaga por viver essa paixão, mas sente um imenso peso ao ter assistido sem
nada fazer a execução de toda uma família em sua missão na Amazônia, fato que
talvez o tenha afastado da religião e pode ter contribuído por torná-lo mais
humano.
No enredo o papel da
assistente social, está muito ligado à igreja. Vimos como o Estado muitas das
vezes responde com repressão as manifestações populares, a coerção também é
constante nas favelas. Junto com a burocracia, a corrupção, a falta de vontade
política, faz com que no filme a construção das moradias não avançasse.
Normalmente o que beneficia essa parcela da população nem sempre tem
continuidade. As pessoas que se envolvem e que trabalham com esse público não
são muito valorizadas, daí vermos como caminha a precarização das condições de
trabalho do assistente social.
O filme é um retrato da
situação vivida em várias favelas na América Latina, em que o Estado não se faz
presente (a não ser pelo aparato coercitivo com o objetivo de manter a ordem
hegemônica) e suas responsabilidades são passadas para instituições religiosas
com o intuito de amenizar as expressões da questão social tão avassaladoramente
incididas sobre a população pobre como brilhantemente mostradas pelo diretor na
película.
Conclui-se que nesse filme
há uma vivencia entre os personagens onde engloba conflitos morais e materiais junto
a diversos conflitos políticos e sociais. Ao mesmo tempo em que traça um olhar
sobre a periferia argentina, nos mostra um olhar também da igreja católica e da
polícia. É este o confronto que permeia o filme, uma luta contra o sistema faz
com que o personagem principal entre em conflito com tantos opositores, seja na
polícia, na política ou na própria igreja católica. Em sua visão, os interesses
das organizações não podem ser maiores do que os interesses das classes menos
favorecidas, independente de qualquer que seja estes interesses.
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