O trabalho é a categoria fundante do ser
social, pois a partir dele e de sua autoconstrução, que o homem passou a se
diferir dos outros animais. Porém, esta formação se remete a um processo
evolutivo, que dá inicio a constituição da terra, que emerge dos seres
inorgânicos, que através de reações químicas, metamorfosearam-se em seres
orgânicos, seguindo o mesmo proceder dando origem aos reinos aninais e
vegetais, com inúmeras espécies, dentre delas os mamíferos, destacando-se o a
família dos primatas, que continuam o processo de evolução, dando origem aos
homens sapiens-sapiens, que também evoluíram até chegarem a condição humana,
que passaram a responder as necessidades apresentadas, não por puro instinto
animal, mas utilizando da teleologia como projeção ideal da finalidade e meio
para transpor as causalidades impostas pela natureza, que através do trabalho,
o homem pode objetivar, o que antes só existia no nível do pensamento,
exteriorizando-o.
Contudo, quando o homem satisfaz uma
necessidade, muitas outras aparecem, constituindo as causalidades postas,
exigindo novos conhecimentos e habilidades, que lhe dão mais possibilidades de
enfrentamento, fazendo recuar as barreiras naturais, em razão das múltiplas escolhas
constituídas pelo homem, a partir da transformação
da natureza que acaba por transformá-lo também.
É através do trabalho que o homem se torna
livre das amarras que o prende a natureza, logo pode expandir sua inteligência,
suas habilidades, sua criatividade para além de sua obra, pois seus inventos
perpassam sua criação, compondo um acervo da humanidade.
Porém, o que parecia ser a libertação do
homem acaba por denegrir a sua condição humana, quando o trabalho, antes fonte
de inspiração e prazer, torna-se produto da ambição de uma classe, que acaba
por absorver todo conhecimento, habilidade e
capacidade criativa do trabalhador, processo que se iniciou antes mesmo
da instauração do sistema capitalista, ainda na fase da manufatura, onde artesões
que detinham todo conhecimento do processo de trabalho, em razão do crescimento
do comércio e da impossibilidade da concorrência, acabam por fechar seus
negócios e irem trabalhar para os comerciantes, em troca de um salário,
perdendo ao longo dos tempos, o controle total da produção, alienando-o da
natureza, pois não mais conhece o processo pelo qual ela foi transformada;
alienando-o do produto do seu trabalho, porque não o reconhece como tal;
alienando-o enquanto classe, pois não reconhece que dentro do processo de
trabalho há outros trabalhadores envolvidos e alienando-o da sua condição
humana, já que as relações sociais foram reificadas, ou seja, foram
comercializadas dentro da realidade capitalista.
O trabalho alienado se intensifica e
complexifica com o modo de produção capitalista, pois dentro dele não existe
mais a essência humana, transbordada de peculiaridades do gênero-humano, pois a
lógica de mercado aniquilou com a capacidade criativa do homem, ao mesmo tempo
em que o aprisiona, dada as suas necessidades básicas de sobrevivência, nesta
selva de pedra construída pelo homem em prol do capital predador, que não
conformado em apoderar-se dos produtos feitos pelos trabalhadores, acabam por apropriar-se
de sua essência, transformando-o em máquina, programado e destinado a produzir
riqueza às classes dominantes, que lhe subtrai até seus sonhos, absorto na
ideologia que lhes é imposta, muito sutilmente, no cotidiano.
Isto é tão verdadeiro que uma leitura sem
reflexão da música Construção de Chico Buarque esconde as nuanças da categoria
da alienação, que aparece em praticamente todos os trechos da música, mas só se torna evidente com um olhar
mais crítico.
Alguns me chamaram a atenção:
[...] ”E atravessou a rua
com seu passo tímido” – Ninguém o percebe e nem ele se integra com a multidão.
[...] “Subiu na contramão
como se fosse máquina”. – Não conhece o processo de trabalho na sua totalidade,
onde sua força de trabalho é comprada, igualando-a a qualquer outra mercadoria.
[...] “Tijolo por tijolo num
desenho lógico”. – trabalho robotizado sem criatividade.
[...] “Morreu na contramão
atrapalhando o público”. – Público este que passa na rua e não se reconhece na
condição de trabalhador e de ser humano, tal como o operário morto, e que só é
percebido quando atrapalha o fluxo normal do dia-a-dia agitado das pessoas, mas
que também não se importam com aquele sujeito, que teve a infelicidade de
morrer num sábado, atrapalhando um dia de descanso ou de lazer dos outros.
A música mostra o extremo individualismo
nos dias atuais, onde todos vivem por si e para si, desconhecendo todo o
processo evolutivo e construído pela humanidade ao longo dos bilhões de anos no
planeta Terra, desconsiderando a essência humana, que a grande força motriz,
capaz de feitos maravilhosos, que hoje compõe um patrimônio de todos, que só se
tornou possível, graças à inteligência e criatividade do homem, como
gênero-humano, idealizador, prodigioso, transformador.
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