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quarta-feira, 15 de maio de 2013

OS ESPAÇOS SÓCIOS OCUPACIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL



OS ESPAÇOS SÓCIOS OCUPACIONAIS DO ASSISTENTE SOCIAL – MARILDA IAMAMOTO

Marilda caracteriza o assistente social como um trabalhador assalariado e portador de um projeto profissional enraizado de processos históricos e trata alguns determinantes históricos que explicam as metamorfoses dos espaços ocupacionais que são o Estado, empresas (privado), ONGS( 3º setor) e organizações da classe trabalhadora

Os espaços ocupacionais dos assistentes sociais e sua metamorfose só podem ser entendidos dentro de uma totalidade histórica e as formas assumidas pelo capital no processo de revitalização da acumulação no cenário de crise mundial. Essas medidas de superação da crise sustentam-se no aprofundamento da exploração e a expropriação incidindo diretamente no universo do trabalho e dos direitos.

Estas estratégias defensivas incidem na relação de Estado e sociedade de classes, alterando a forma assumida pelo Estado e a destinação do fundo público, a tecnologia e as formas de organização da produção de bens e serviços (reestruturação produtiva), o consumo e a força de trabalho e as expressões associativas da sociedade civil.  O mercado dentro desta perspectiva liberal acaba por regular as relações sociais impulsionando a competição e o individualismo e desarticulando formas de luta e negociação coletiva. Impulsiona-se uma privatização e mercantilização da satisfação das necessidades sociais favorecendo a produção e circulação de mercadorias. O bem estar social passa a ser transferido no foro privado dos indivíduos com seu trabalho voluntario restando ao Estado a responsabilidade da pobreza extrema.  Neste cenário cresce o desemprego, a desregulamentação e informalização das relações de trabalho, crescem as políticas focalistas. Ocorre uma reorientação do gasto público em favor do grande capital financeiro e em detrimento da economia política do trabalho.

A despolitização da classe subalterna e sua divisão por categorias faz parte da estratégia política e ideológica de legitimação do capital, o consenso de classe é alimentado pela mídia, iniciativas empresarias e pela re-estruturação do Estado e suas correspondentes políticas sociais que passam a organizar-se no crivo da privatização, focalização e descentralização, terreno onde se inscreve o trabalho dos assistentes sociais.

A tecnologia que potenciam a produtividade e intensificam o trabalho atribui novos contornos ao mercado profissional fazendo emergir inéditas requisições e demandas a esse profissional, novas habilidades, competências e atribuições. Ela fala da importância da capacitação acadêmica que permite entender esta dinâmica ideológica a fim de impulsionar o fortalecimento da luta contra-hegemonica comprometida com o universo do trabalho.

O espaço profissional é um produto histórico, o trabalho profissional é resultante da história e dos agentes a que ela se dedicam, pois a correlação de forças e grupos sociais cria em várias conjunturas limites e possibilidades que o profissional pode se mover. O espaço profissional não está consolidado socialmente, as demandas se abrem historicamente no curso da realidade.

O especo profissional é simultaneamente reprodutor e superador da ordem, ora atende a classe opressora e também a oprimida através de mediações específicas. Existe um fio contraditório que percorre os fenômenos históricos e as instituições que abrigam o trabalho profissional.

Como trabalhador assalariado, ou seja, que precisa vender sua força de trabalho subordina esse trabalho de qualidade aos ditames do trabalho abstrato e o impregna dos dilemas da alienação, condicionando a sua autonomia e a implementação do projeto profissional tendo que ser dotado de liberdade e teleologia capaz de realizar projeções e buscar implementá-la na vida social cuja ações são submetidas ao poder dos empregadores e determinadas por condições externas aos indivíduos os quais são socialmente forjados a subordinar-se ainda que coletivamente possam rebelar-se. Esse dilema é apreendido no cotidiano quando se percebe o distanciamento entre teoria e prática.  O que determina o cotidiano das ações profissionais são as condições sociais que circunscrevem esse trabalho e relações sociais por meio dos quais ele se realiza. Que interferem no seu direcionamento, nas suas atribuições, no recursos autorizados que repercutem na qualidade do trabalho, soma-se a isso o cumprimento de metas, as pressões por prazos e rotinas. Ele encontra-se sujeito a determinantes externos que o limitam no mercado de trabalho. Uns dos elementos que incidem sobre o trabalho realizado no âmbito do aparelho de Estado é a burocracia (é a separação dos interesses particulares do interesse geral) e isso pode impregnar a atuação do profissional na relação com o sujeito invadindo seu ambiente privado.

Assim um desafio é romper com posições ora fatalistica, ora messiânica. A primeira superestima a força e a lógica do comando do capital no processo de reprodução. E a outra é deslocar a ênfase para a vontade política do coletivo profissional correndo o risco de diluir a profissionalização.

Outro desafio é participar de pesquisas e produção acadêmica no cotidiano da profissão para entender e se compreender dentro de um processo histórico em constante transformação. É fundamental o respaldo coletivo da categoria para a definição de um perfil profissional, valores que orientam, competências teórico-metodológicas e operativas é uma estratégia de alargamento da relativa autonomia contra a alienação do trabalho assalariado. O fato do serviço social ser regulamentado como uma profissão liberal, embora em choque com a sua prática efetiva, que depende de uma relação contratual de trabalho com as entidades empregadoras , atribui ao profissional certas prerrogativas , como o respeito a um código de ética , que lhe preservam um certo poder de barganha diante das instituições, na defesa de suas próprias iniciativas.

Uma das atividades exercida pelo profissional é socialização das informações, não trata-se só ao repasse de dados sobre as normas e recursos legais, mas é uma informação transmitida na ótica do direito social, envolve uma reflexão ao sujeitos que demandam seus direitos. Essa atividade extrapola uma abordagem individual, pois um individuo faz parte de uma coletividade, impulsiona a articulação do trabalho com as forças organizadas da sociedade civil abrindo canais para a articulação do individuo com grupos e entidades capazes de negociar interesses comuns.

O assistente social ao atuar na intermediação entre as demandas da população usuária e o acesso aos serviços sociais, coloca-se na linha de interseção das esferas públicas e privadas, como um dos agentes pelo qual o Estado intervém no espaço domestica dos conflitos presentes no cotidiano das relações sociais.

A metamorfose dos espaços ocupacionais do assistente social

Vivemos uma tensão entre a defesa dos direitos sociais universais e a mercantilização e refilantropização do atendimento às necessidades sociais com claras implicações nas condições e relações de trabalho do  assistente social.

A difusão das redes de parceria social e os fundos de solidariedade vão à contramão da legislação que considera a assistência social como direito e acaba por potencializar marcas como o clientelismo, fragmentação institucional, ausência de participação e controle popular. Por esse meio o governo articula-se à iniciativa privada e a organização do chamado terceiro setor como um novo modelo de gestão da área social. Essa tendência do deslocamento da satisfação de necessidades da esfera pública para esfera privada ocorre em detrimento das lutas e de conquistas sociais e políticas extensivas a todos, seria uma regressão da cidadania. Esse processo acaba por afetar o espaço ocupacional de várias categorias profissionais entre as quais os AS que atuam com prestadores de serviços sociais.


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